domingo, 15 de agosto de 2010

Um presente para o Rebe

Um presente para o Rebe
“A aprovação para o sagrado Tanya”


Na estrada principal que conduzia à Liozna vivia um chassid que trabalhava como melamed – um professor no chêder. Sua esposa era doceira e complementava a renda familiar fazendo bolos e doces. O professor os vendia aos moradores de Liozna.
Já bem tarde, numa noite de inverno, o melamed assustou-se com uma batida na porta da frente. Estava um frio congelante, com ventos fortes e uma pesada neve.
“Quem poderia ser a esta hora da noite, com este tempo horrível?” – pensou. Ao abrir a porta deparou-se com um homem congelado até os ossos, à beira de um colapso.
Ajudou o estranho a entrar e trouxe uma chaleira fumegante de um nicho do gigantesco forno de metal, peça que ocupava uma posição estratégica em todos os lares russos. Enquanto o visitante se aquecia com uma xícara de chá, o proprietário desalojou seus filhos que dormiam ao lado do forno e preparou uma cama para o estranho - no ponto mais quente e cobiçado da casa.
De madrugada, o estranho partiu, prosseguindo sua jornada. Tão logo se deram conta que havia ido embora, as crianças apressaram-se para retomar o lugar ao lado do forno. Lá encontraram um pequenino saco deixado pelo visitante, repleto de moedas de ouro.
O melamed não sabia como proceder. Temia uma conspiração, para acusá-lo por roubo (possibilidade não inviável naqueles tempos difíceis). Decidiu aconselhar-se com o Rebe.
O Alter Rebe, Rabi Shneur Zalman, envolveu-se em seus pensamentos por algum tempo e depois lhe respondeu: “O Todo - Poderoso enviou-lhes um, presente, ninguém exigirá sua devolução”. Mas não se vanglorie com sua riqueza recém – adquirida. Complete o semestre letivo e então me procure, e o orientarei como proceder.
Ao final do semestre, o melamed voltou ao Alter Rebe que o instruiu para alugar um apartamento na cidade, com uma pequena loja anexa. Deveria comprar mercadoria do representante local e revendê-la. “Quando obtiver sucesso, se D’us quiser, no prazo de um ano, volte e lhe direi o que fazer”.
Seguiu precisamente as instruções do Rebe e, um ano mais tarde, o melamed voltou para informar que havia progredido; quanto ao saquinho de moedas, continuava quase intacto. O Alter Rebe então o aconselhou viajar à cidade de Vitebesk para adquirir mercadoria, em vez de compra-lá do representante local, e vende-la aos comerciantes de Liozna.
Um ano depois, o melamed de outrora uma vez mais procurou o Alter Rebe. Havia seguido as instruções ao pé da letra e alcançara um lucro considerável, tendo utilizado muito pouco do tesouro. Dessa vez o Alter Rebe solicitou que comprasse diretamente dos fornecedores de Moscou, de quem os comerciantes de Vitebsk tinham o Hábito de adquirir suas mercadorias.
Mais um ano passou e o ex - melamed hoje empresário novamente procurou a opinião do Alter Rebe. Disse–lhe que passasse por cima dos intermediários e viajasse a Konigsburg, onde os fornecedores moscovitas compravam sua mercadoria. Deveria posteriormente vende - lá aos moscovitas e também aos comerciantes locais de Vitebk e de Liozna.
Os negócios do ex - melamed cresciam de vento em popa. Sempre que ia para Konigsburg, procurava os conselhos e a benção do Alter Rebe. Numa ocasião, o Rebe falou: “Uma vez que está viajando para Konigsburg por que não me traz um presente de lá?” E assim ocorreu. Em Konigsburg procurou lojas que vendiam ouro e prata, até que encontrou o presente que procurava: uma caixa de rapé de ouro puro por um preço elevado.
Voltou a Liozna e entregou o presente ao Alter Rebe, que disse: “É um belo presente, mas não é o que eu imagino.” Quando o comerciante melamed voltou a Konigsburg, comprou uma caixa de rapé ainda mais cara.
Ao presentear o Alter Rebe, este repetiu novamente: “Não é o que eu imaginava”.
Antes de sua próxima viagem a Konigsburg, o chassid, uma vez mais, visitou o Alter Rebe. “Está indo para Konigsburg” – o Alter Rebe falou pensativamente. “Diga-me, já foi alguma vez ao teatro?” O melamed chassídico (mesmo tendo se tornado um homem de negócios) não fazia idéia do que era um teatro. Mas como o Alter Rebe lhe havia perguntado, parecia óbvio que, por alguma razão, teria que ir ao teatro em Konigsburg. E assim ocorreu. Comprou o ingresso mais caro que havia para um camarote privado. O ex – melamed foi conduzido a seu suntuoso assento. Afundou, exaurido, nas almofadas fofamente estofadas e adormeceu.
A apresentação havia terminado, mas o viajante exausto não acordou. Somente ao ouvir uma voz dirigir-se a ele, despertou. Era o faxineiro informando que era hora de sair. Os dois iniciantes uma conversa.
Quando o faxineiro descobriu que o “herói de nossa história” era de uma pequena cidade da Rússia chamada Liozna, perguntou: “Por acaso conhece Rabi Zálmanke?”.
“Claro” – respondeu o fracassado apreciador de teatro. “Na verdade sou um de seus chassidim!”.
“Realmente? Por favor, dê minhas lembranças a ele. Diga que Karl lhe envia saudações.”
Quando o chassid voltou a Liozna e, obedientemente deu as lembranças de Karl, o Alter Rebe respondeu: “Esse é o presente que eu queria!”.
Uma vez, antes de partir para Konigsburg, o melamed – empresário apresentou-lhe se ao Alter Rebe que lhe deu um pequeno pacote para entregar a Karl. “Quando terminar seus negócios em Konigsburg” – instruiu – “traga o pacote de volta”.
E assim ocorreu. O chassid comprou um ingresso para o teatro, onde tirou novamente uma soneca depois de sua chegada a Konigsburg. Depois da apresentação, Karl apareceu. O chassid informou – o que havia dado suas lembranças ao Alter rebe e que este havia dito para entregar-lhe um pacote que deveria ser devolvido antes de sua partida.
Karl, mesmo surpreso, rapidamente abriu o pacote. Começou a examinar o manuscrito que continha. O chassid viu que o primeiro capítulo do livro começava com a palavra “Tanya...”.
Karl folheou as páginas, exclamando: “Ruach Hacôdesh (Inspiração Divina)! Verdadeiramente inspirado por D’us! Não sei o que Mashiach ainda terá para nos ensinar!” Ao final, devolveu o pacote ao chassid, aturdido.
Rabino Shemuel Gronem, o ilustre mashpia (mentor) na Yeshivá Tomechê Temimim Lubavitch da geração passada, comentou que Karl foi um dos 36 tsadikim nistarim (justos ocultos). O Alter rebe havia, dessa maneira, solicitado sua aprovação para imprimir o Tanya.
Texto original de Reshimot
Devarim vol, 1, pág. 49 ff.
Traduzido para o inglês
Pelo chabad Magazine.

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