domingo, 29 de agosto de 2010

A Alma



A Alma

Alma humana divide-se em cinco níveis, de acordo com seu grau de pureza. São eles, relacionados a seguir, do nível mais grosseiro ao mais sutil.

1 – Nefesh
2 – Ruach
3 - Neshamá
4 – Chaiá
5 – Iechidá

Nefesh, Ruach e Neshamá pertencem ao plano pessoal, enquanto Chaiá e Iechidá, ao plano transpessoal. Nefesh é a vitalidade, o sopro de vida, o nível de alma que permite a atividade simultânea e coordenada do corpo físico, e a ele está intimamente ligada, abandona-lo significa a morte.
Nefesh corresponde, no homem, ao Olam Há-Assiá na Criação, e circula apenas neste plano físico, junto ao corpo.
Ruach é o nível de alma relacionado às emoções. Não está diretamente ligada ao corpo físico, mas a Nefesh. Isto lhe dá certa independência, e Ruach pode abandonar o corpo, nos estados oníricos ou contemplativos, trazendo impressões do Olam Ha-Ietzirá, pois Ruach corresponde ao plano da formação ou astral, e nele circula, mesmo que a grande maioria não tenha consciência disso.
Neshamá, o nível sutilíssimo da alma, é a verdadeira essência do homem. É independente do corpo e apóia-se em Ruach, ativando-a.
Neshamá é responsável pelo mais elevado grau de discernimento no homem, tanto intelectual quanto espiritual, e circula em Olam HaBriá, o mundo da Criação, e revelações.
Neshamá é a centelha Divina no homem. Toda criatividade humana de caráter genial, seja no terreno da ciência, da arte ou da filosofia, bem como as grandes revelações de ordem profética, provêm dos impulsos de Neshamá, que, por sua natureza espiritual, eleva se a altos níveis de compreensão e proporciona ao homem uma possibilidade de sintonia e identificação com o todo, mesmo que, na maioria dos casos, inconscientemente.
O Zohar compara brilhantemente a alma humana graduada em três níveis à chama de uma vela. A parte inferior da chama está unida ao pavio, e é de coloração mais escura. Assim como o pavio serve de apoio para a parte escura da chama, que representa Nefesh ligada ao corpo, a chama escura serve de apoio à chama branca, que é Ruach.
Assim como Ruach, que pode circular independente do corpo físico, a chama branca e superior é livre, e move-se em todas as direções.
Acima da chama branca há uma luminosidade, um halo, de luz envolvendo toda a chama, que é como neshamá no homem.
Enquanto a chama se eleva e ilumina ao redor, a vela vai se consumindo, até desaparecer, e libera aquela luminosidade.
Tal é o destino de Neshamá, após a morte do corpo físico. Ascende ao seu planos, junto àquelas que lhe são semelhantes.
Nefesh, Ruach e Neshamá manifestam-se no homem em épocas diferentes. Nefesh, na hora do nascimento, como sopro de vida; Ruach manifesta-se como comunicação, não a comunicação passiva de nefesh, baseada nas sensações, mas a comunicação, ativa, baseada nos sentimentos, emoções e desejos; Neshamá identifica-se como discernimento, na fase da puberdade.

Nefesh - Sensações
Ruach – Comunicação
Neshamá – Discernimento

O cabalista, no trabalho de unificação dos mundos, promove simultaneamente a unificação dos três níveis de sua alma, por analogia.
Chaiá e Iechidá são os níveis mais elevados da alma. Circulam os planos espirituais e encerram a essência da individualidade do homem, aquela que se preserva e se acumula através das várias encarnações, desprezando as características temporárias da personalidade.





domingo, 15 de agosto de 2010

Um presente para o Rebe

Um presente para o Rebe
“A aprovação para o sagrado Tanya”


Na estrada principal que conduzia à Liozna vivia um chassid que trabalhava como melamed – um professor no chêder. Sua esposa era doceira e complementava a renda familiar fazendo bolos e doces. O professor os vendia aos moradores de Liozna.
Já bem tarde, numa noite de inverno, o melamed assustou-se com uma batida na porta da frente. Estava um frio congelante, com ventos fortes e uma pesada neve.
“Quem poderia ser a esta hora da noite, com este tempo horrível?” – pensou. Ao abrir a porta deparou-se com um homem congelado até os ossos, à beira de um colapso.
Ajudou o estranho a entrar e trouxe uma chaleira fumegante de um nicho do gigantesco forno de metal, peça que ocupava uma posição estratégica em todos os lares russos. Enquanto o visitante se aquecia com uma xícara de chá, o proprietário desalojou seus filhos que dormiam ao lado do forno e preparou uma cama para o estranho - no ponto mais quente e cobiçado da casa.
De madrugada, o estranho partiu, prosseguindo sua jornada. Tão logo se deram conta que havia ido embora, as crianças apressaram-se para retomar o lugar ao lado do forno. Lá encontraram um pequenino saco deixado pelo visitante, repleto de moedas de ouro.
O melamed não sabia como proceder. Temia uma conspiração, para acusá-lo por roubo (possibilidade não inviável naqueles tempos difíceis). Decidiu aconselhar-se com o Rebe.
O Alter Rebe, Rabi Shneur Zalman, envolveu-se em seus pensamentos por algum tempo e depois lhe respondeu: “O Todo - Poderoso enviou-lhes um, presente, ninguém exigirá sua devolução”. Mas não se vanglorie com sua riqueza recém – adquirida. Complete o semestre letivo e então me procure, e o orientarei como proceder.
Ao final do semestre, o melamed voltou ao Alter Rebe que o instruiu para alugar um apartamento na cidade, com uma pequena loja anexa. Deveria comprar mercadoria do representante local e revendê-la. “Quando obtiver sucesso, se D’us quiser, no prazo de um ano, volte e lhe direi o que fazer”.
Seguiu precisamente as instruções do Rebe e, um ano mais tarde, o melamed voltou para informar que havia progredido; quanto ao saquinho de moedas, continuava quase intacto. O Alter Rebe então o aconselhou viajar à cidade de Vitebesk para adquirir mercadoria, em vez de compra-lá do representante local, e vende-la aos comerciantes de Liozna.
Um ano depois, o melamed de outrora uma vez mais procurou o Alter Rebe. Havia seguido as instruções ao pé da letra e alcançara um lucro considerável, tendo utilizado muito pouco do tesouro. Dessa vez o Alter Rebe solicitou que comprasse diretamente dos fornecedores de Moscou, de quem os comerciantes de Vitebsk tinham o Hábito de adquirir suas mercadorias.
Mais um ano passou e o ex - melamed hoje empresário novamente procurou a opinião do Alter Rebe. Disse–lhe que passasse por cima dos intermediários e viajasse a Konigsburg, onde os fornecedores moscovitas compravam sua mercadoria. Deveria posteriormente vende - lá aos moscovitas e também aos comerciantes locais de Vitebk e de Liozna.
Os negócios do ex - melamed cresciam de vento em popa. Sempre que ia para Konigsburg, procurava os conselhos e a benção do Alter Rebe. Numa ocasião, o Rebe falou: “Uma vez que está viajando para Konigsburg por que não me traz um presente de lá?” E assim ocorreu. Em Konigsburg procurou lojas que vendiam ouro e prata, até que encontrou o presente que procurava: uma caixa de rapé de ouro puro por um preço elevado.
Voltou a Liozna e entregou o presente ao Alter Rebe, que disse: “É um belo presente, mas não é o que eu imagino.” Quando o comerciante melamed voltou a Konigsburg, comprou uma caixa de rapé ainda mais cara.
Ao presentear o Alter Rebe, este repetiu novamente: “Não é o que eu imaginava”.
Antes de sua próxima viagem a Konigsburg, o chassid, uma vez mais, visitou o Alter Rebe. “Está indo para Konigsburg” – o Alter Rebe falou pensativamente. “Diga-me, já foi alguma vez ao teatro?” O melamed chassídico (mesmo tendo se tornado um homem de negócios) não fazia idéia do que era um teatro. Mas como o Alter Rebe lhe havia perguntado, parecia óbvio que, por alguma razão, teria que ir ao teatro em Konigsburg. E assim ocorreu. Comprou o ingresso mais caro que havia para um camarote privado. O ex – melamed foi conduzido a seu suntuoso assento. Afundou, exaurido, nas almofadas fofamente estofadas e adormeceu.
A apresentação havia terminado, mas o viajante exausto não acordou. Somente ao ouvir uma voz dirigir-se a ele, despertou. Era o faxineiro informando que era hora de sair. Os dois iniciantes uma conversa.
Quando o faxineiro descobriu que o “herói de nossa história” era de uma pequena cidade da Rússia chamada Liozna, perguntou: “Por acaso conhece Rabi Zálmanke?”.
“Claro” – respondeu o fracassado apreciador de teatro. “Na verdade sou um de seus chassidim!”.
“Realmente? Por favor, dê minhas lembranças a ele. Diga que Karl lhe envia saudações.”
Quando o chassid voltou a Liozna e, obedientemente deu as lembranças de Karl, o Alter Rebe respondeu: “Esse é o presente que eu queria!”.
Uma vez, antes de partir para Konigsburg, o melamed – empresário apresentou-lhe se ao Alter Rebe que lhe deu um pequeno pacote para entregar a Karl. “Quando terminar seus negócios em Konigsburg” – instruiu – “traga o pacote de volta”.
E assim ocorreu. O chassid comprou um ingresso para o teatro, onde tirou novamente uma soneca depois de sua chegada a Konigsburg. Depois da apresentação, Karl apareceu. O chassid informou – o que havia dado suas lembranças ao Alter rebe e que este havia dito para entregar-lhe um pacote que deveria ser devolvido antes de sua partida.
Karl, mesmo surpreso, rapidamente abriu o pacote. Começou a examinar o manuscrito que continha. O chassid viu que o primeiro capítulo do livro começava com a palavra “Tanya...”.
Karl folheou as páginas, exclamando: “Ruach Hacôdesh (Inspiração Divina)! Verdadeiramente inspirado por D’us! Não sei o que Mashiach ainda terá para nos ensinar!” Ao final, devolveu o pacote ao chassid, aturdido.
Rabino Shemuel Gronem, o ilustre mashpia (mentor) na Yeshivá Tomechê Temimim Lubavitch da geração passada, comentou que Karl foi um dos 36 tsadikim nistarim (justos ocultos). O Alter rebe havia, dessa maneira, solicitado sua aprovação para imprimir o Tanya.
Texto original de Reshimot
Devarim vol, 1, pág. 49 ff.
Traduzido para o inglês
Pelo chabad Magazine.